A displasia coxofemoral é uma doença genética?
24/10/2024
Será que esta é uma doença genética? Um diagnóstico de displasia coxofemoral em seu cão demonstra que o criador trabalhou de forma errada, acasalando animais doentes? Não necessariamente, e por isto é tão importante conhecer o trabalho do criador antes de adquirir um cão de raça!
A displasia coxofemoral é uma doença ortopédica, que causa a má formação da articulação do quadril – ou seja, entre a cabeça do fêmur e o acetábulo. É um problema que só pode ser diagnosticado através do raio X de quadril, e quando em sua forma mais grave, já pode aparecer na imagem de filhotes de até meses de idade. Cães adultos podem ter displasia mesmo que ainda não manifestem nenhum sinal clínico, motivo pelo qual é tão importante o raio X antes da decisão pela reprodução, uma vez que cães displásicos, mesmo sem sinais clínicos, não devem ser reproduzidos.
Assim, nos casos em que o criador não realizou o raio X antes da reprodução, ou mesmo realizou e reproduziu cães com o diagnóstico, é possível sim delegar a culpa de um filhote displásico para o criador. Isto porque esta é uma doença que apesar de não ser totalmente determinada pela genética, tem uma influência comprovada da hereditariedade. Dessa forma, cabe ao criador responsável fazer seu trabalho de controle via raio X, em uma tentativa de diminuir as chances de filhotes doentes. Isto é especialmente importante nas raças mais afetadas, que em geral são porte grande: Golden Retriever, Labrador, Bernese, São Bernardo, Boxer, Pastor Alemão, etc. No entanto, também é papel do futuro “pai de pet” avaliar o trabalho do criador, solicitando cópia dos exames de quadril antes de realizar a compra. Este tipo de atitude estimula a criação responsável, e fomenta somente o trabalho daqueles criadores que trabalham corretamente.
Ainda assim, uma vez que esta não é uma doença que possui somente influência da genética, mas também do ambiente, o papel do pai do pet na prevenção da doença é igualmente importante: prevenir a obesidade, especialmente no filhote, evitar pisos escorregadios e excesso de degraus, e fornecer uma alimentação balanceada são fatores que, em somatório com o trabalho correto do criador, aumentam muito a chance do pet crescer com as articulações normais.
É importante lembrar que é totalmente possível o nascimento de um filhote displásico mesmo de casais saudáveis. Isto acontece porque é muito complexo prever a predisposição genética que pode estar presente em cães com raio X normal. Como ainda não existem testes genéticos para determinar a presença desta predisposição, a escolha por reproduzir um cão deve ser baseada no raio X. Nestes casos não é viável delegar a responsabilidade para o criador que avaliou seus cães e reproduziu somente cães saudáveis, uma vez que as únicas ferramentas disponíveis para o controle da doença foram utilizadas.
Fabiana Michelsen de Andrade
Geneticista especializada em Pequenos Animais
Bióloga, Mestre e Doutora pela UFRGS
Pós-doutorado Biologia Celular e Molecular (Reino Unido) e em Melhoramento Genético Animal (UFRGS)
Sócia fundadora e diretora científica da petgenoma