A presença de uma raça no resultado de composição racial sempre indica ancestralidade?
22/11/2024

Quando falamos de ancestralidade em cães, estamos nos referindo ao histórico genético deles, ou seja, às raças e características que foram passadas de geração em geração. Esse histórico ajuda a entender as características e traços que um cão exibe hoje, como seu porte físico, temperamento e até certas necessidades de saúde e cuidados específicos.
Na genética, a ancestralidade representa a "origem" de certas partes do DNA, que carregam traços de raças ou regiões que contribuíram para o “mosaico” genético do cão. Entretanto, a presença de uma raça na análise genética nem sempre indica que o animal possui um ancestral direto daquela raça específica.
Isso acontece porque os programas de análise de ancestralidade calculam a proporção de raças no DNA a partir de muitos marcadores genéticos - no caso da petgenoma, 80 mil marcadores. Esses dados geram uma estimativa geral, que identifica regiões do genoma que são similares àquelas de algumas raças. Esta similaridade pode ocorrer porque um cão teve um ancestral daquela raça realmente (“similaridade por descendência”) ou porque as misturas aleatórias da genética através das gerações acabaram originando as mesmas regiões presentes em algumas raças (“similaridade por estado”). De forma geral, valores inferiores a 10% não podem ter sua causa determinada: o cão com menos de 10% de uma raça pode tanto ter tido parentes distantes (tataravós para trás) daquela raça, como ter esta porcentagem apenas por similaridade. Em casos extremos e raros, é inclusive possível que um cão de raça definida venha de uma longa linhagem de vira latas, sem nenhum ancestral de raça de pura em muitas gerações, mas que sua composição genética resulte similar à de um cão de uma determinada raça. Este fato também explica porque algumas raças que não existem no Brasil podem aparecer em composições inferiores a 10%: não significa que um cão teve um ancestral daquela raça, mas sim a "coincidência de misturas".
Portanto, a presença de uma raça em uma análise genética sugere mais uma “compatibilidade genética” com certos traços do que uma confirmação de descendência direta daquela raça na linhagem recente do cão.
Darilene Ursula Tyska
Sócia geneticista e bioinformata
Doutorado em Genética e Melhoramento Animal | UFRGS
Mestrado em Produção Animal | UFPel
Zootecnista | UFPel