Como é feito e para que serve um teste de composição racial?
30/04/2024
Através das publicações sobre o genoma canino e as particularidades do DNA de cada raça a partir de 2004, o conhecimento sobre as características genéticas da espécie se tornou de domínio público. Desde então, se tornou possível extrair um grande número de dados a partir de análises de DNA: com a otimização técnica do processo laboratorial, progredimos para a área denominada de “genômica”.
Uma análise genômica é aquela que determina um panorama amplo de informações sobre as possíveis variantes no DNA de um animal. Diferentemente das análises genéticas clássicas, que utilizam o PCR para determinar o resultado para um determinado gene, uma única análise genômica pode fornecer centenas e até milhares de informações sobre o DNA. Quando esta avaliação é feita através da tecnologia de microarray ou hibridização com chip de DNA, é possível obter informações sobre dezenas de milhares de pontos no genoma canino, podendo chegar a até 220 mil. Desta forma, a cobertura do que é analisado é alta, e possibilita, dentre outros objetivos, a determinação do conjunto de variantes específico de cada raça. Este conjunto funciona como uma “impressão digital”, que é diferente entre raças, mas idêntica entre cães de uma mesma raça.
Laboratórios que realizam análises de composição racial (em caso de cães, bovinos, e outras espécies) ou de composição étnica (em caso de seres humanos) devem possuir em seu banco de dados todas estas “impressões digitais” dos genomas de cada raça ou grupo étnico. Quanto maior o banco de dados, maior a possibilidade de detectar a raça correta. Quando se realiza o teste de composição racial de um cão, o seu DNA é avaliado através da tecnologia de chip de DNA, e seus dados são comparados com aqueles disponíveis no banco de dados do laboratório, possibilitando a emissão do laudo que atesta se o cão é de uma determinada raça pura, ou se é uma mistura entre duas ou mais raças.
Uma das utilidades deste tipo de análise é ter a certeza de que um filhote adquirido como sendo de raça pura realmente é 100% de uma só raça. No entanto, uma aplicação que vem ganhando muito interesse dos amantes de cães é a determinação da composição racial de cães sem raça definida, ou SRDs. Apesar de parecer inicialmente apenas uma curiosidade, os dados oriundos desta análise podem fornecer informações muito ricas para o tutor, e aumentar muito a qualidade da relação com o cão. Afinal, conhecendo quais raças estão mais representadas no seu pet, é possível se informar sobre as médias de tendências de comportamento de cada uma. Quando as raças com maiores influências na composição do seu pet são entendidas, o tutor pode ter informações sobre quais são os tipos preferidos de brincadeira, qual será a necessidade de gasto de energia e se o cão terá uma boa capacidade de ser treinado ou se será mais teimoso, dentre muitas outras características.
Apesar da profunda aplicação do teste de composição racial para o incremento da relação entre cão e tutor, e para a qualidade de vida de ambos, é muito importante levar em conta que quanto menor o peso na composição racial demonstrada no resultado da análise, menos esta raça irá impactar no comportamento do animal. Desta forma, é importante manter o foco para as informações daquelas raças que apareceram em uma porcentagem maior, e aproveitar o novo conhecimento sobre seu amigo de quatro patas.
Fabiana Michelsen de Andrade
Geneticista especializada em Pequenos Animais
Bióloga, Mestre e Doutora pela UFRGS
Pós-doutorado Biologia Celular e Molecular (Reino Unido) e em Melhoramento Genético Animal (UFRGS)
Sócia fundadora e diretora científica da petgenoma