Como interpretar os resultados de identificação racial?
30/04/2024
Antes de discutir a interpretação, é fundamental compreender como a análise é realizada. Grande parte do nosso trabalho concentra-se em questões relacionadas à variação genética. Utilizando ferramentas computacionais buscamos entender a estrutura genética das populações de cães, identificando padrões de variação genética dentro de cada raça e entre elas. Através de milhares de pontos específicos no DNA que variam entre os indivíduos (também chamados de SNPs), é possível agrupar cães que compartilham características genéticas semelhantes, indicando uma relação genética mais próxima entre eles.
Isso possibilita entender a ancestralidade dos cães, identificar raças ou linhagens específicas e, até mesmo, investigar questões como a diversidade genética e a estrutura populacional.
Como interpretar essa diversidade do DNA canino?
Quando discutimos a diversidade do DNA canino, é interessante lembrar como os cães de raça apresentam um fenótipo homogêneo. Isso significa que todos os cães de uma determinada raça compartilham padrões semelhantes, seja em termos de porte, pelagem, conformação da cabeça, orelhas e comportamento. Assim como as características (os tais fenótipos) visíveis a olho nu, podemos observar similaridades no DNA desses cães. Essa semelhança, em muitos casos, pode chegar a ser de 100%, mas é comum que exista alguma variação dentro de uma raça.
A questão da estrutura populacional refere-se por exemplo à diferentes linhagens de uma mesma raça, como por exemplo cães de diferentes origens (Europa ou EUA) de uma determinada raça. Nesse caso, a linhagem brasileira pode apresentar pequenas variações genéticas em cães reproduzidos localmente, resultando em uma detecção diferente de 100% de compatibilidade do DNA. Isso significa que, embora seja um cão de raça, neste exemplo, ele pode ter apenas 95% de compatibilidade com o DNA presente no banco de dados que foi formado por cães de outras populações. Portanto, é crucial termos cães de raças puras nascidos no Brasil para capturar essa variabilidade local e tornar os testes mais precisos. Para isso, nós na petgenoma estamos ampliando continuamente nosso banco de DNA de cães de raça brasileiros.
Quando se trata de cães sem raça definida (SRD), eles apresentam um mosaico genético naturalmente diversificado, resultado da seleção natural. Nos resultados desses cães, é possível observar percentuais de mistura que indicam aproximadamente em qual geração essa mistura ocorreu. Por exemplo, se um cão testado possui 50% de uma raça pura, isso significa que um dos pais desse cão era de uma raça presente no banco de dados. Se ele tem 25% de uma raça pura, significa que um dos avós era dessa raça. Quando o percentual é de aproximadamente 12% de uma outra raça, indica que um dos bisavôs era dessa raça. Se o percentual for menor que 10%, a mistura ocorreu há mais de três gerações, tornando impreciso afirmar qual é essa mistura.
Um aspecto importante a ser considerado é a precisão da mistura informada nos resultados. Quanto menor o percentual, menor é a precisão. Ao tentarmos capturar pequenas variações na variabilidade do DNA dentro da mesma espécie (cães), pode ser desafiador quando estamos lidando com percentuais abaixo de 10%. Portanto, em busca de resultados mais precisos, é recomendado focar nas taxas de mistura acima de 10%.
Para concluir a interpretação dos resultados de identificação racial, é importante destacar que esses resultados são altamente dependentes do banco de dados genéticos do laboratório e de como esse banco foi estruturado. Isso ocorre porque o DNA do seu cãozinho será comparado com o DNA (semelhante) presente nesse banco, e a raça do banco que possuir semelhança estará no resultado de identificação racial. Portanto, as comparações entre os resultados de diferentes laboratórios, especialmente quando se trata de uma maior diversidade genética (como nos casos dos SRD), podem variar, devido às raças e à origem dos cães presentes em cada banco de dados de cada laboratório.
Darilene Ursula Tyska
Sócia geneticista e bioinformata
Doutorado em Genética e Melhoramento Animal | UFRGS
Mestrado em Produção Animal | UFPel
Zootecnista | UFPel