Genética e adestramento: como o conhecimento da genética de um cão pode auxiliar no adestramento personalizado?
30/04/2024
Alguns tipos de deficiência visual e auditiva ocorrem na fase adulta, ou mesmo após os 8 anos dos cães. Exemplos são a “surdez de início no adulto” do Border Collie, e os diversos tipos de “atrofias progressivas da retina” com ocorrência significativa em raças como o Cocker Spaniel Ingles, o Labrador e o Yorkshire Terrier. Estas atrofias são causadas por variantes genéticas diferentes, mas o que todas possuem em comum é que a perda da visão já começa no cão adulto, da mesma forma que a surdez do Border Collie.
Estas deficiências sensoriais não trazerem sofrimentos físicos para os cães, como dores ou outros sinais clínicos. Ainda assim é inegável o impacto destes problemas no bem-estar e na qualidade de vida, especialmente devido à sua idade de início: quando a perda sensorial inicia, estes cães já estão habituados a utilizarem os respectivos sentidos, e podem ter seu dia a dia muito impactado.
Neste sentido, a realização de um teste genético ainda na fase de filhote possui a vantagem de prever riscos futuros durante a vida. Em um laudo genético, poderá vir a informação de risco aumentado para a surdez ou para algum tipo de atrofia da retina. Embora esta informação jamais indique um diagnóstico no momento que o teste foi feito, ela é valiosa para demonstrar a probabilidade do cão perder a audição ou a visão na fase adulta ou na velhice.
De posse desta informação, o tutor responsável tem a possiblidade de investir em um adestramento personalizado para este filhote. Um cão que aprende a não depender tanto da visão quando jovem, e a priorizar os outros sentidos, terá um impacto muito diminuído quando a perda da visão começar. Da mesma forma, um filhote que aprende a linguagem de sinais, quando se tornar um deficiente auditivo poderá manter a comunicação de qualidade como seu tutor. Assim, aliar a informação de testes genético com adestramento personalizado é um ato de amor.
Fabiana Michelsen de Andrade
Geneticista especializada em Pequenos Animais
Bióloga, Mestre e Doutora pela UFRGS
Pós-doutorado Biologia Celular e Molecular (Reino Unido) e em Melhoramento Genético Animal (UFRGS)
Sócia fundadora e diretora científica da petgenoma