Medicina Personalizada: você sabia que alguns medicamentos podem ser muito perigosos para a saúde do seu cão?

30/04/2024

Cães das raças Collie, Pastor de Shetland, Pastor Australiano e Border Collie, ou ainda um mix ou um SRD originado destas raças, possuem altas chances de possuir a “intolerância à múltiplas drogas”. Este problema, também conhecido como intolerância ou hipersensibilidade à ivermectina, pode ser fatal, caso você ou o veterinário de seu cão não tenha conhecimento sobre esta particularidade do bichinho, e utilize alguns medicamentos para tratamento de diferentes doenças. A boa notícia é que existem testes genéticos que podem mostrar se o cão possui ou não o problema, o que aumenta muito a segurança no manejo farmacológico.

O animal afetado é chamado de intolerante ou hipersensível, pois ao utilizar alguns tipos de medicamentos, estes se acumulam anormalmente no cérebro, trazendo uma série de sinais clínicos. Estes sinais incluem depressão, sonolência, excesso de produção de saliva, tremores, ataxia (perda de coordenação de movimentos), dilatação da pupila, podendo chegar ao coma e até à morte do animal. Diferente do conhecimento geral dos médicos veterinários generalistas, é importante lembrar que a ivermectina não é o único medicamento relacionado, apesar de ter dado nome ao problema. Ou seja, a saída para aumentar a segurança não pode passar somente pela atitude de não utilizar ivermectina, pois outros fármacos levam a este tipo de quadro clínico em animais hipersensíveis. Exemplos são doramectina (agente antiparasitário), a vincristina, a vimblastina e a doxorrubicina, que são agentes quimioterápicos, além de qualquer fármaco cujo substrato seja a glicoproteína P. A lista completa de fármacos que causam este tipo de reação pode ser encontrada no site da Washington State University (http://vcpl.vetmed.wsu.edu/problem-drugs).

Muitos veterinários, cientes deste risco, optam pela não utilização destes medicamentos em cães das raças mais afetadas, e dentre estas o Collie é a raça mais conhecida por ser afetada. No entanto, muitas vezes estes seriam os medicamentos de primeira escolha, e é de extrema importância identificar o animal que poderá apresentar os efeitos indesejáveis, e somente para estes evitar o uso destes princípios ativos.

A única maneira de diferenciar estes animais antes da utilização dos medicamentos é através de um teste genético, pois este problema é causado por uma mutação já conhecida, no gene denominado MDR1. Originalmente descrita como recessiva, atualmente sabe-se que esta mutação é incompletamente dominante: cães portadores de somente uma cópia da mutação são sensíveis, porém manifestam os sinais clínicos de uma maneira muito mais branda do que cães que possuem duas cópias da mutação (herdadas de pai e mãe), nos quais as manifestações clínicas são as mais graves. Recentemente se descobriu, inclusive, que cães portadores de somente uma cópia podem ser tratados com os medicamentos em questão, mas em uma dose menor, que se torna segura. Desta maneira, é de extrema importância clínica para as raças afetadas, ter seu status genético determinado por exame de DNA, pois esta informação pode ser de grande valia para o médico veterinário: além de informar se o cão não pode sob hipótese alguma ser tratado com estes fármacos, o resultado do teste pode demonstrar que o mesmo pode ser tratado, porém com uma dose menor, ou mesmo ser tratado com a dose padrão, mesmo que seja de uma raça com alta prevalência do problema.

O exame genético MDR1 determina se o animal não possui nenhuma cópia da mutação ou variante no gene, se é um portador de uma cópia da variante ou se possui a variante em duplicata (affected). É de grande importância que o veterinário de seu cão saiba do resultado de seu teste genético, para direcionar diferentes tipos de tratamento, de forma mais eficaz e segura. Todas as variantes descritas pela ciência até o momento são testadas pelo produto PREMIUM da petgenoma que você encontra aqui

Fabiana Michelsen de Andrade

Geneticista especializada em Pequenos Animais
Bióloga, Mestre e Doutora pela UFRGS
Pós-doutorado Biologia Celular e Molecular (Reino Unido) e em Melhoramento Genético Animal (UFRGS)
Sócia fundadora e diretora científica da petgenoma