O papel dos testes genéticos na melhoria da saúde de cães de raça
30/04/2024
Na última década o advento da tecnologia do DNA também no mundo canino tem provocado uma revolução na forma como cães de raça são criados. Entre 2010 e 2015, poucos laboratórios no mundo iniciaram seu trabalho de testagem de DNA canino. Alguns criadores nacionais já começaram a testar seus cães para uma ou duas doenças, uma vez que acompanharam a tendência de países desenvolvidos.
Desde então, o número de laboratórios foi crescendo, e aproximadamente nos anos 2015-2017 os primeiros laboratórios de análise de DNA animal brasileiros começaram a oferecer testes genéticos para algumas poucas doenças. Atualmente, existem no país algumas possibilidades de realização de diferentes tipos de testes genéticos, desde os mais simples, até os mais modernos.
Mas qual o sentido de fazer testes genéticos em cães? Uma análise deste tipo demonstra se o animal possui ou não risco aumentado de desenvolver a doença testada. Somente esta informação já seria muito interessante para boa parte das doenças, uma vez que muitas podem ser prevenidas ou adiadas, caso exista o conhecimento sobre o risco, e um manejo precoce. No entanto, na área da criação de cães de raça, a utilização de testes genéticos é ainda mais interessante, uma vez que pode possibilitar que o criador escolha os casais de forma correta, com o objetivo de produzir uma ninhada totalmente livre das doenças testadas.
Um detalhe importante de ser lembrado sobre os testes genéticos, é que eles não devem servir para descriminar cães que sejam portadores assintomáticos de variantes para uma ou outra doença genética. Como a grande maioria das doenças é do tipo “recessiva”, um filhote só terá o risco aumentado para esta doença, caso o criador acasale dois portadores. Neste caso, um a cada quatro filhotes da ninhada herdará duas variantes para doença, e este cão, sim, terá risco aumentado. Assim, a detecção de portadores assintomáticos de uma única variante não deve ser motivo para o criador não reproduzir mais aquele cão, mas sim para ele escolher o casal correto, reproduzindo o cão com outro que não seja portador como o primeiro.
É importante lembrar que todas as raças são portadoras em maior ou em menor frequência de uma ou várias doenças genéticas. Assim, quando o interessado em adquirir um cão de uma determinada raça procura um criador que realize testes genéticos para doenças, este tutor está contribuindo duplamente para o bem-estar de cães de raça: primeiramente, estará adquirindo um filhote que não irá manifestar nenhuma das doenças testadas. Além disto, este tutor está impulsionando um mercado de qualidade, voltado para o melhoramento genético focado na saúde.
Fabiana Michelsen de Andrade
Geneticista especializada em Pequenos Animais
Bióloga, Mestre e Doutora pela UFRGS
Pós-doutorado Biologia Celular e Molecular (Reino Unido) e em Melhoramento Genético Animal (UFRGS)
Sócia fundadora e diretora científica da petgenoma