Qual a importância da consanguinidade e como ela pode ser avaliada por exame de DNA?
30/04/2024
Nos últimos séculos, a criação de várias dezenas de novas raças de cães popularizou o uso do acasalamento entre parentes, também conhecido como “acasalamento consanguíneo”, pois esta é uma forma rápida de, em poucas gerações, produzir filhotes muito parecidos entre si. Por isso, esta escolha por reproduzir cães aparentados se tornou uma forma comum de escolha de casais pelos criadores.
No entanto, com o crescimento científico de toda a área da genética, incluindo nos últimos dez anos a genética canina, atualmente estão disponíveis inúmeras evidências científicas que demonstram os efeitos deletérios da consanguinidade excessiva. Órgãos oficiais e criadores de países de primeiro mundo, que em geral possuem um acesso facilitado à ciência, já estão cientes destes efeitos, e já trabalham de forma a escolher cães com o menor grau de parentesco possível para serem acasalados.
A partir de diversos artigos científicos que comparam proles de cães com diferentes graus de parentesco, já foi possível determinar que a consanguinidade excessiva está relacionada com dificuldades de reprodução, aumento de chance de doenças genéticas, piora na eficiência imunológica (o que leva à doenças como dermatite atópica, alergias alimentares e doenças autoimunes), diminuição de longevidade e maiores chances de câncer precoce.
Desta forma, é interessante que exista alguma forma de avaliar a consanguinidade de um cão, para entender se ela está dentro dos limites normais para a espécie, ou se está excedendo os limites preconizados para um cão saudável. Uma das formas de fazer isto, é através de uma estimativa feita através dos nomes dos parentes do pai e da mãe, avaliando os nomes presentes em ambos os pedigrees: quanto mais nomes estiverem repetidos, maior será o valor de consanguinidade, e caso este valor ultrapasse 10%, é indicado que o criador não realize o acasalamento. Geneticistas especializados na área da criação realizam este cálculo, e utilizam esta informação no aconselhamento genético para o criador.
No entanto, uma forma muito mais exata de avaliar o grau de consanguinidade de um cão é através da análise de DNA, o que irá informar o grau de consanguinidade genômica. Quando se avalia o DNA de um animal, é possível contar quantos pontos analisados são idênticos pela via paterna e pela via materna. Cães que possuem valores altos de consanguinidade genômica terão maiores riscos de todos os problemas de saúde já relatados, o que é uma informação de grande importância para o tutor. Afinal, uma vez que ele saiba que seu pet possui maior risco para alguma destas doenças, que não são avaliadas por testes genéticos, o ideal é que leve esta informação para o veterinário. O profissional terá como direcionar a realização de vários exames de saúde mais frequentes para detectar qualquer alteração de saúde na fase inicial e promover um tratamento mais efetivo.
Fabiana Michelsen de Andrade
Geneticista especializada em Pequenos Animais
Bióloga, Mestre e Doutora pela UFRGS
Pós-doutorado Biologia Celular e Molecular (Reino Unido) e em Melhoramento Genético Animal (UFRGS)
Sócia fundadora e diretora científica da petgenoma