Você sabe o que é consanguinidade e por que ela é importante para o seu pet?

06/02/2025

A consanguinidade é um tema bastante discutido no mundo da criação de cães, mas ainda gera muitas dúvidas entre tutores e criadores. Em termos simples, ocorre quando dois indivíduos aparentados são acasalados, aumentando a probabilidade de que seus descendentes herdem trechos idênticos de DNA de um ancestral em comum. Esse fenômeno pode ter consequências tanto positivas quanto negativas, dependendo da forma como é manejado.

Historicamente, a consanguinidade tem sido utilizada na criação e seleção de raças puras. Criadores a empregam para fixar características desejáveis, como padrões específicos de pelagem, temperamento ou habilidades, como aptidão para pastoreio ou guarda. No entanto, um dos principais problemas dessa prática é o aumento da probabilidade de expressão de genes recessivos prejudiciais. Isso pode resultar em maior propensão a doenças genéticas, ao câncer, além de maiores chances de problemas reprodutivos (como menor número de filhotes por ninhada) e imunológicos.

A consanguinidade pode ser avaliada de duas formas principais: por meio da genealogia (pedigree), ou por testes genéticos, que determinam o que é chamado de "consanguinidade genômica”. A análise pelo pedigree normalmente se baseia em 3 a 5 gerações conhecidas, enquanto os testes genéticos permitem uma avaliação mais precisa da consanguinidade genômica, identificando os trechos idênticos de DNA herdados de ambos os pais. O grande diferencial da consanguinidade genômica é que ela também permite estimar quando ocorreram esses eventos consanguíneos, ou seja, se foram recentes ou se ocorreu uma consanguinidade mais antiga, ligada à formação da raça.

Essa informação é essencial para entender se o nível de consanguinidade é prejudicial. Isso porque, quanto maior for a consanguinidade recente, maiores serão os trechos idênticos de DNA, aumentando as chances de expressão de genes deletérios. Conforme as gerações passam, esses segmentos longos são quebrados pela recombinação genética, reduzindo o tamanho dessas regiões idênticas e aumentando a diversidade genética.

Na prática, programas de criação responsáveis buscam manter um equilíbrio, evitando acasalamentos que elevem excessivamente os níveis de consanguinidade e promovendo maior diversidade genética na população. Com o uso de testes genéticos, é possível prever o grau de consanguinidade de uma futura ninhada antes mesmo do acasalamento, tornando o processo mais seguro e consciente. Criadores que utilizam essa abordagem contribuem diretamente para a saúde e longevidade dos cães.

Para os tutores, entender a consanguinidade é fundamental ao escolher um filhote saudável. Perguntar sobre a linhagem genética e solicitar exames de saúde são atitudes que podem ajudar a evitar futuras complicações. E mesmo para aqueles que adotam os SRD (sem raça definida), a consanguinidade também pode ser relevante. Muitas vezes se assume que SRDs possuem baixa consanguinidade, mas isso nem sempre é verdade. Testes genéticos podem revelar informações valiosas sobre sua história genética e saúde, permitindo que manejos preventivos sejam feitos em casos de cães que tenha riscos de saúde aumentados.

Por fim, refletir sobre a consanguinidade vai além da genética; trata-se também de garantir o bem-estar animal. Evitar altos índices de consanguinidade e priorizar a saúde e qualidade de vida dos cães deve ser o objetivo principal de qualquer programa de criação ou adoção responsável. Afinal, um pet saudável é um pet mais feliz e que trará ainda mais alegria para sua família.

Se você deseja saber mais sobre a genética do seu cão, a petgenoma pode te ajudar! Com informação e prevenção, podemos garantir um futuro mais saudável para nossos fiéis companheiros.

Darilene Ursula Tyska

Sócia geneticista e bioinformata
Doutorado em Genética e Melhoramento Animal | UFRGS
Mestrado em Produção Animal | UFPel
Zootecnista | UFPel